A oração de Jesus: Abbá


 

No Novo Testamento podemos notar uma atitude muito significativa de Jesús: a oração. Muitas vezes tal atitude de Jesus passa esquecida, porém a oração está conectada com os momentos mais decisivos de sua vida. Na Palestina do primeiro século, é comum que alguns Mestres da Lei ensinem seus discípulos a rezar. Jesus ensina uma nova maneira de rezar: Abbá. Para muitos teólogos é a mensagem central do Novo Testamento, é o que afirma por exemplo o Teólogo Protestante Joaquim Jeremias. 

A oração de Jesusnão é ingênua. Ele sabe que alguns tipos de oração levam a uma espiritualidade narcisista, egoísta, onde o que importa é a relação infantil “eu e Deus” sem preocupar-se com os outros. A oração de Jesus tomada desde sua vida mesma nos mostra que o que marca sua essência mesma é o Amor. Ao contrário do niilismo, vazio experimentado por nós na pós-modernidade, a oração é ver o abandono, nos capacita a orar a um Deus que somente sabe amar. No diálogo com Deus Ele nos convida a encontrar sentido na vida.

Porém como rezou Jesus? A palavra concreta que Jesus chama a Deus é Abbá. No Antigo Testamento significava Pai, porém nunca é referido diretamente a Deus como um vocativo. No evangelho de Marcos, dirigido a uma comunidade de Roma, elenão traduz o término Abbá, por mais que esta comunidadenão conheça o arameu. Ou seja, o evangelista quer dizer que Abbá é uma palavra seguramente carregada de significado que não se deixa perder ao ser traduzida é ipsissima verba Iesu (Palavra autêntica de Jesus).

Abbá é a primeira palavra de uma criança que começa a dar os primeiros passos, é o sussurro do infante aprendendo a falar no contexto da Palestina nos tempos de Jesus. Algo assim como o nosso“mamãe”, que faz referência a criança com a mãe quando está aprendendo a falar as primeiras palavras. Logo a palavra Abbá utilizada na fase adulta é uma forma de confiança e respeito à figura do Pai. Assim que Jesus em sua oração demonstra uma intimidade única com Deus.

É interessante notar que Jesus sempre coloca diferença na sua relação com Deus e a nossa. Em nenhum momento ele diz “nosso Pai”, sempre diz “meu Pai e vosso Pai”, marcando sua consciência de uma filiação dele para com Deus diferente da nossa. Ou de outra maneira, Jesus é o Filho com maiúscula. 

Quando Jesus coloca um rosto de Abbá a Deus, quer dizer que é o Filho, e que somos irmãos, isso é um grande obstáculo para as autoridades de seu tempo, como pode alguém dizer que é o Filho de Deus? O anunciador do Reino? E ainda que sou irmão de outras pessoas fora do meu contexto religioso? Pior ainda por tratar de uma mensagem por um pobre e sem nenhum cargo no Templo. É um absurdo para os sacerdotes da época. O Deus de Jesus parecia oposto ao Deus de Israel. 

A oração de Jesus tomada desde todo o contexto de sua vida é uma oração capaz de sair de si mesmo e anunciar o amor do Deus Abbá que se preocupa por seus filhos e nos faz denunciar as injustiças de uma espiritualidade oprimente que faz da casa de Deus um negócio. 

O Deus Abbá nos faz todos mais irmãos, nos exige uma resposta, uma toma de decisão aqui e agora pela causa do Reino, como algo que acontece já aqui e agora quando nós estamos dispostos a obrar em favor da causa de Deus. Uma espiritualidade sólida é aquela que faz que nossa vida tome outro sentido, é perguntar a vontade de Deus em cada momento, e incluso se preciso, dar a vida por Ele. É uma oração confiada onde podemos saltar porque sabemos que há um Deus disposto a nos sustentar na fé. Abbá é a oração que nos ensina o Espírito Santo quando não sabemos o que dizer a Deus. É uma oração madura onde o que importa é realizar a vontade de Deus e não a minha. 

 


Frei Danilo Janegtiz
Graduando de Teologia pela Faculdade de Teologia de Granada, Espanha. 

 



i7 Notícias
-->