‘Arrancaram o filho da mãe’, diz mulher que luta na Justiça por macaco de estimação
O programa foi exibido ontem, dia 11
Um macaco-prego que foi retirado de sua dona deu o que falar. Primeiro virou tema de algumas reportagens dos telejornais da TV Tem, filiada da Rede Globo, e agora a história foi parar até Fantástico. Confira a matéria que foi ao ar neste domingo.
Uma história de um amor interrompido, o caso de uma senhora aposentada e seu macaquinho de estimação. “Levaram o meu filho, né? Arrancaram o filho da mãe”, diz Elizete Furlan.
Depois de quase uma vida inteira se dedicando ao que ela chama de filho, dona Elizete está revoltada.
“Tem tanta criança aí abandonada, eles não pegam. Vai pegar um bichinho que tem o larzinho dele?”, questiona.
O bichinho é um macaco prego que viveu aparentemente feliz em São Carlos, interior de São Paulo, durante 37 anos.
“Minha mãe ganhou ele em 1976”, lembra o filho Everaldo Furlan.
Segundo a família, o ‘Chico’, como era chamado, foi dado de presente por um amigo.
O mundo de Chico era: de dia, o quintal estreito; à noite, uma caminha de dois andares, com cobertor.
“Às vezes a mãe até brigava com a gente, queria que o bichinho fosse dormir, e nós queríamos ficar com ele”, conta Everaldo Furlan.
Para não fugir e fazer o que todo macaco faz, macaquices, ele ficava preso a uma coleira. De vez em quando, era levado para dar uma voltinha na rua, como mostram as imagens de arquivo.
A vizinhança gostava dele. “Era agradável. E a molecada daqui ia lá para admirar o macaquinho”, conta o vizinho Domingos Fabris Neto.
“Nunca avançou em ninguém, ele era superdócil”, afirma Guilherme dos Santos, vizinho.
E nem dava trabalho. “De jeito nenhum, nunca deu”, garante Nadir Aparecida.
Mesmo assim, a polícia ambiental recebeu denúncias.
“A primeira denúncia foi em 2008. Depois, teve uma nova em 2011 e 2013 agora, que gerou inclusive o processo criminal”, explica Flávio Lazzarotto, advogado de dona Elizete.
Manter animais silvestres em cativeiro é crime, a não ser quando comprados de criadouros ou comerciantes devidamente registrados no Ibama. A pena é de seis meses a um ano de prisão, mais multa.
Quando há uma denúncia, a polícia vai ao local, verifica as condições em que o bicho está e dá uma autorização temporária, sem prazo de validade, para que ele fique com a pessoa, até ser encontrado um lugar apropriado, como um zoológico ou um viveiro licenciado.
“Se ele não adquirir as condições para que ele seja reintroduzido ao seu ambiente natural, obviamente que ele vai continuar sob a guarda e a tutela humana”, diz Milton Nomura, da Polícia Ambiental – SP.
Dona Elizete afirma que teve autorização para manter o bicho definitivamente e que o documento foi levado pela polícia depois de uma das denúncias. Já a polícia ambiental diz que essa autorização nunca existiu.
As várias espécies de macaco prego estão presentes em quase todas as regiões do Brasil.
Adultos, pesam cinco quilos e têm 44 centímetros de comprimento, fora a cauda, que chega a 49 centímetros.
A liberdade que o ‘Chico’ nunca experimentou é bastante social, o macaco prego anda em bandos de até 50 animais.
A expectativa de vida chega a 30 anos, se não virar refeição de um predador.
No fim de julho, a polícia achou um lugar para ‘Chico’ e, nesse lugar, o ‘Chico’ encontrou sua verdadeira identidade.
Enquanto a Justiça decide o destino do animal, o Chico permanece em um viveiro em Assis, a cerca de 350 quilômetros da casa onde morava. Por lá a vida mudou completamente. Ele ganhou uma amiga, mudou de nome e de sexo: os biólogos descobriram que é uma fêmea, e agora é chamada de ‘Carla’.
Para um leigo, a confusão é fácil de acontecer: a anatomia da fêmea é parecida com a do macho.
Uma decepção para dona Elizete.
“Eu falei brincando que se ele for mulher mesmo, vou comprar um vestidinho cor de rosa pra ele, mas não vou, não. Eu vou vestir ele de hominho mesmo”, brinca.
Segundo o veterinário do viveiro, a ‘Carla’ não estava 100% quando chegou.
“Um pouco abaixo do peso.Tem uma certa atrofia nas patinhas traseira, que ela nem conseguia direito segurar, um pouco de lesão no pescoço, por conta de coleira”, diz Danilo Peitl, veterinário.
Dona Elizete diz que sempre tratou bem do bicho e que ele tinha apetite, tomava até leite.
“Ele comia arroz, feijão não, porque ele não gosta. Ele gosta de farinha, mas só de milho”, lembra.
“A questão é que leite, farelo, essas coisas assim não é adequado. Adequado é fruta, adequado é legumes”, explica o veterinário.
O advogado de dona Elizete entrou com um pedido na Justiça para que o ‘Chico’ ou melhor, a Carla, fique com ela até o caso ser julgado.
O Ministério Público de São Carlos informa que vai pedir ao juiz para que o macaco continue no viveiro onde está.
Segundo o MP, se dona Elizete for condenada, deverá apenas pagar multa, que pode ser uma cesta básica.
“Me dá ele de volta que ele é um filho, eles tiraram um pedaço de mim. E eu não estou aguentando mais. Não sei até quando vou agüentar”, diz dona Elizete.