Uma vida descartável...
"Jamais creia que os animais sofrem menos do que os humanos. A dor é a mesma para eles e para nós.
Talvez pior, pois eles não podem ajudar a si mesmos". (Dr. Louis J. Camuti)
Transitando pelas rodovias e estradas vicinais que tangenciam a cidade, estou acostumado a me deparar com muito lixo jogado às margens das mesmas. Sempre me questiono sobre o motivo que leva uma pessoa a deixar o aconchego do lar, de posse de lixo doméstico, se locomover até um local distante, supondo que seja distante do ponto de partida dessa pessoa, e descartar o referido material em local impróprio.
Um dos motivos talvez seja o desconhecimento da Lei de Crimes Ambientais que caracteriza em seu Artigo 54 como Crime Ambiental tal atitude, tipifica no Inciso V do mesmo artigo, e ainda no Artigo 15 da mesma lei, torna agravante da pena se tal ato for cometido em Unidades de Conservação (caracterizadas no Artigo 7 da Lei 9985/2000) e sorrateiramente aos domingos, feriados e à noite (Incisos e, h e I do mesmo Artigo).
Ou seja, na letra fria da lei, pessoas que jogam lixo às margens da rodovia estão cometendo Crime Ambiental, e as penas vão desde multa até detenção, ou ambas. Está tudo lá, podem consultar a Lei 9605/1998.
Uma pessoa que joga lixo em local impróprio, diz muito de si mesmo, mas além da minha opinião pessoal, que não consigo encontrar na língua portuguesa todos os adjetivos pejorativos que gostaria de alcunhar a referida, pouco tenho a dizer, visto que um psicólogo deve ser capaz de esmiuçar mais amiúde um comportamento tão nefasto à moral humana.
Mas no último domingo, o que encontrei me deixou pasmo. Uma cena que para muitos seria apenas mais um descaso com o meio ambiente para outros, um simples descarte de lixo em local impróprio. Mas não. Alguém, que desconheço e não faço a mínima questão de conhecer, pois como disse o filósofo alemão Arthur Schopenhauer certa vez, "a compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem", abandonou um cachorro à própria sorte às margens da estrada.
Pelo que observei no local, e pode ser observado nas fotos que ilustram esse texto, o cachorro foi deixado ainda vivo no local, pois caso contrário a água e comida também no local seriam desnecessários.
Provavelmente o animal foi dispensado naquele local ainda vivo, pois supostamente agonizava. No local pode ser visto um par de luvas verdes, utilizado pelo autor da obra de horror. O cachorro se encontrava semi-coberto com um tapete de carro e alguns paninhos. Ao lado, uma vasilha de ração e um pote de sorvete com água.
Quando me deparei com aquela cena, fiquei de certo modo chocado. Muitas coisas me vieram à mente, me senti decepcionado comigo mesmo por chegar ao local já encontrando o cão morto.
Será que esse cachorro merecia ser abandonado numa beira de estrada, agonizando, sozinho, esperando a morte? Que fez ele para merecer tratamento tão cruel? O mínimo que se poderia esperar numa situação dessas é que seu dono o amparasse num momento tão difícil.
Quantas alegrias esse pobre cão deve ter dado ao seu proprietário. Talvez ele tenha cuidado do patrimônio do mesmo, ou talvez tenha tirado sorrisos de algum rosto de criança. Mas nada, nada do que ele fez em vida, fez com que ele tivesse um tratamento menos hipócrita na hora de sua morte.
Não há argumentos que minorem ato de tamanha crueldade.
Pra encerrar, eu posso citar São Francisco de Assis: "Todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem... Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida".
Numa sociedade consumista e embasada em valores puramente materias, como estamos vivenciando, um outro cachorro pode ser comprado, e portanto esse aí da foto era descartável, e literalmente foi.