Salva-vidas são investigados por morte de bombeiro mariliense

Quando João se afogava, bombeiros não teriam acreditado na família.


Durante 30 anos, João Jerônimo Dias, 75, trabalhou pela vida de terceiros; quando se afogava, bombeiros não teriam acreditado na família

 


Foto tirada por familiares na viagem à Guaratuba; idoso sabia nadar e não abusava do mar - Divulgação

O Corpo de Bombeiros do Paraná instaurou uma sindicância para apurar as circunstâncias da morte do bombeiro aposentado mariliense João Jerônimo Dias, 75 anos, vítima de afogamento na praia central de Guaratuba (630 km de Marília). Segundo a família, um alerta da própria filha no momento em que o idoso se afogava foi ignorado por um casal de salva-vidas que estava na praia.

Abalada com a morte do pai, a enfermeira Silvana Martins Dias Toni relatou ao Diário a revolta da família com as circunstâncias do acidente, registrado no dia 23 de dezembro. Segundo ela, João Jerônimo também não sofreu mal súbito. Os filhos acreditam que a parada cardiorrespiratória foi provocada pela asfixia.

“Ele estava no mar e eu na areia, observando. Percebi quando meu pai começou a se afogar e foi arrastado pela correnteza. Sai gritando e pedi para os dois salva-vidas que estavam ali próximo (um homem e uma mulher) fazerem alguma coisa. Mas infelizmente não acreditaram. Disseram que ele estava nadando”, denunciou Silvana.

A enfermeira conta que chegou a discutir com o bombeiro. “O homem se irritou comigo, dizendo que sabia fazer o trabalho dele e que meu pai estava bem. Foi perdido um tempo precioso. A soldado que estava com ele, de tanto eu insistir, caminhou em direção ao mar. Mas quando eles decidiram se mexer, meu pai já estava sendo tirado da água por três banhistas, desacordado”, relatou Silvana.

A própria filha iniciou os procedimentos de reanimação, até a chegada de uma equipe de resgate dos bombeiros. “Todo socorro possível foi prestado, mas só depois desse momento. O que mais nos revolta é que meu pai passou a vida trabalhando para salvar as pessoas e quando precisou, não foi atendido”, disse.

Os familiares acreditam que Dias tenha sido vítima de ondas traiçoeiras. Ele sabia nadar, mas segundo Silvana não desafiava o mar e mantinha a água na altura da cintura. Em função da idade e de uma artrite que gerava eventual desconforto, pode ter sido arrastado para um local de maior profundidade.

João morreu no momento em que era transportado para um helicóptero, que o levaria para um hospital com recursos avançados em Paranaguá. Nesta quarta-feira, o porta-voz da Operação Verão, capitão Fernando Tratch, confirmou a abertura de sindicância. “Esse relato da família foi recebido e será apurado”, garantiu.

O tempo médio desse tipo de apuração, segundo ele, é de 40 dias úteis. O capitão esclareceu que a operação conta com reforço de bombeiros do interior do Estado, mas garantiu que todos são treinados também para salvamentos no mar.

Após a morte do aposentado mariliense, os bombeiros paranaenses registraram mais um óbito no litoral. Um adolescente de 17 anos morreu na cidade de Pontal do Paraná, porém, no local, não havia salva-vidas, segundo o capitão.

 

VETERANO

Dias trabalhou por cerca de 30 anos na polícia paulista. Exerceu a função de bombeiro por quase 25 anos em Marília. Ele participou do combate às chamas no Edifício Marília, em um dos maiores incêndios da história da cidade.

“Ele foi homenageado pela Câmara junto com outros veteranos. Gostava muito da profissão e era muito querido. Durante muitos anos trabalhou no Cobom 193, no atendimento às ocorrências. Era muito comunicativo e sabia reconhecer a urgência quando recebia, por telefone, um pedido de socorro”, disse a filha.

Dias tinha quatro filhos, dez netos e seis bisnetos. A última foto tirada pela família foi feita durante a viagem no morro do Cristo, em Guaratuba, e ilustra essa reportagem.

 

Fonte: Diário de Marília



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