Protetores de animais voluntários

O que diferencia um “protetor” de um “não protetor” é que o primeiro olha aquilo que às vezes o segundo ignora.



Para começar essa conversa, antes de qualquer coisa, devemos nos lembrar de que “protetor de animais” nem sempre, pra não dizer nunca, é uma profissão. Na maioria das vezes é uma qualidade. Aqueles que levam esse nome como lema querem dizer à sociedade “eu tenho olhos”. 

O que diferencia um “protetor” de um “não protetor” é que o primeiro olha aquilo que às vezes o segundo ignora. 

Que bom que temos pessoas que vêm animais em situações de risco, de maus tratos, atropelados, com fome, doentes e tantas outras situações, entram em contato com um desses protetores e pedem ajuda para tentar salvar a vida do bichinho, seja ele um cachorro, gato, pombinha, etc. A grande questão é o objetivo desse pedido de ajuda. Muitos pedem socorro por querer se livrar do problema, dizer “Ei! Olhe aqui! Tem um animal sofrendo! Faça algo” e é aí que mora o problema.

Um protetor ou protetora é uma pessoa comum, como todos os outros. Têm fome, sede, sonhos, vontades, contas para pagar, também gostam de ver a casa limpa, de chegar em casa ao final de um dia cansativo de trabalho, tomar um banho quente, esticar as penas, descansar, dormir... Mas quando se têm muitos animais em casa essa rotina é totalmente alterada. Corrijam-me se eu estiver errada, mas aqueles que têm animais em casa pensam “primeiro eles, depois eu”, é normal, todos são assim, se não fossem assim não carregariam o nome de “protetor”.

Portanto, aquela pessoa que pediu ajuda, que quer que alguém faça algo pela vida que tanto necessita de socorro, joga a responsabilidade para essa pessoa, que assim como quem pediu, é comum. O protetor PRECISA que quem pede ajuda, peça mesmo uma “ajuda”. 

Vejam, quero dizer é que a responsabilidade não é só dos protetores, esses estão apenas de olhos e coração aberto, e começam a olhar os espaços de suas casas como “vagas”, como um hospital que possui número de leitos. Uma protetora me disse “nunca planejei ter 16 gatos”, e se não estava em seus planos por que têm? Porque ela não fechou os olhos. Quando o animal precisou ela disse “eu cuido” e esse cuidado durou mais tempo, outra não quis cuidar, outra não quis adotar, outra nem quis saber, e o animal ali ficou, comendo, bebendo, precisando de uma cama, de castração, de vacinas...

Essa é a realidade de muitos que tem a característica de “protetores”, casas lotadas de animais e esgotados. Se um encontro foi marcado para às 20 horas e um protetor e um não protetor chegaram ao mesmo horário, saibam que o protetor teve de se arrumar muito mais rápido e teve menos tempo de descanso.

Vamos falar sobre dinheiro. Animal não custa barato, é como mais uma pessoa no lar, só não come a mesma comida, mas faz (ou deveria fazer) todas as refeições que você faz. Ficam doentes, e diferente de você que tem o SUS, todo o tratamento médico de um animal é particular. Se um animal custa caro, imagine vários, imagine 22 cachorros, 16 gatos, 20 gatos, 40 gatos... E se acham que a pessoa tem dinheiro para gastar por ter boas condições financeiras, te alerto: esse protetor não tem a obrigação com os custos desses animais. E por que gasta? Porque alguém se negou.

Basicamente em um jogo de empurra de responsabilidade, o protetor é aquele que não jogou a responsabilidade para o próximo, foi quem disse “ok, ninguém faz, então eu PRECISAREI fazer, porque caso ninguém faça custará uma vida”, e o animal, quem menos tem culpa, pagará pela irresponsabilidade de todos que viram, mas ignoraram.

Quando alguém passa a observar todas essas circunstâncias que menciono desde o começo do texto não mais terá uma noite de sono tranquila sequer. Não mais gostará de noites chuvosas, de dias frios, porque o único pensamento será “e os animais que estão na rua?”. 

Protetores se preocupam com pessoas? Sim! Muitos já foram questionados por que se preocupar tanto com um animal com tantas pessoas passando necessidade. Não tenho procuração para responder por todos, assim, trago aqui a resposta que eu mesma dei a uma pessoa que criticou um protetor por buscar direitos aos animais e denunciou pessoas que usavam cachorros para caça e quando feridos os deixavam morrer agonizando: sim, nos preocupamos com as crianças, mas não conseguimos fazer tudo, abraçar todas as causas, você já ajudou alguma criança hoje? Diante da negatória da resposta, se calou.

Protetores sofrem, querem salvar todos os animais, mas são poucos olhos e braços diante da infinidade de casos. Por isso é preciso uma conscientização de todos, desde o Poder Público até cada um, dentro de suas casas. 

Animais não podem falar, sofrem em silêncio e quando maltratados não conseguem pedir socorro. 

De quem é a responsabilidade então? Em uma resposta rápida te digo que se for abandonado, é de quem abandonou, se atropelado, de quem atropelou, se em situação de maus tratos, do praticante do ato, dos animais que já nascem nas ruas, do Poder Público, e o seu? Sim, a responsabilidade é sua mesmo. Aqui há maiores abrangências, mas isso é assunto para outro texto.

Protetores amam os animais e querem ajudar, orientar, incentivar, apoiar, mas dificilmente terão mais uma “vaga” em suas casas e em seus orçamentos para mais um peludinho. 

Abram os olhos e não fechem depois de abertos. Não seja a pessoa que leva animais na casa de um protetor e nunca mais pergunta sobre o que aconteceu com aquela vida, não passe a bola, não culpe o outro, sinta-se responsável também. A casa do lado pode ser dividida por um muro, mas se fizer calor lá, também fará na sua. Abrace essa responsabilidade, busquemos todos os responsáveis. Não se trata de humanos e animais, e sim do mais forte defender o mais fraco. Juntos somos mais fortes. 
 


Por: Isabela Christiano Fernandes
Advogada, estudante de Filosofia e Tecnologia em Gestão Pública, Pós-graduanda em Direito Tributário e defensora da causa animal. 


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