Após perder a avó e duas tias por Covid-19, vendedora diz que tem mais 10 infectados na família

Mulher relata que os parentes são do mesmo bairro de Marília (SP) e essa proximidade pode ter ajudado na contaminação.



Cleuza, 49 anos, Benedita Aparecida, 74, e Zélia, 41: mortes no intervalo de duas semanas chocou a família de Marília (SP) - Foto: Arquivo pessoal

A vendedora Valéria Aparecida Costa Romualdo, de 36 anos, de Marília (SP), aprendeu durante a atual pandemia de coronavírus como um problema de saúde pública mundial pode se transformar em um drama pessoal e familiar.

Afinal, num período de apenas duas semanas, ela enfrentou a perda de três parentes próximos para a Covid-19. No início do mês, nos dias 2 e 3, a avó, de 74 anos, e uma tia, de 49, morreram com complicações da doença. Na última terça-feira (16), mais uma tia, de 41 anos, também não resistiu.

Além da tristeza, a tensão continua na família porque mais 10 pessoas, entre tios, tias, sobrinhos e o avô, estão infectados pelo coronavírus. O avô João Rosa de Oliveira, de 84 anos e agora viúvo, chegou a ficar internado na Santa Casa de Marília, mas já recebeu alta.

“Além da perda irreparável, agora vivemos o medo de acontecer alguma coisa pior com todos eles. Quando meu avô internou, a gente ficou desesperado. Meu Deus, mais um a gente não aguenta”, disse a vendedora.

Outro fator que assustou a família da vendedora foi a violência e a rapidez com que a Covid-19 atingiu as três mulheres que morreram.

“A gente acha que nunca vai acontecer com a família da gente, mas dentro de 15 dias enterramos três pessoas da família. Minha avó era muito importante para todos nós, mas estava acamada, era um risco grande. Agora, minhas tias não tinham nada e do dia pra noite se foram. A tia Cleuza [49 anos, a primeira a morrer] estava bem no domingo e morreu na terça”, diz Valéria.

Diante da tragédia, a vendedora tenta entender como o contágio se deu de forma tão intensa, de onde surgiu a origem do vírus, e o que fazer para tentar se prevenir.

Segundo ela, um fator que pode ter contribuído é o fato de que praticamente toda a família mora no mesmo bairro da cidade, o Jardim Cavalari, com todos os familiares sendo vizinhos entre si.

Com relação à origem do contágio, a suspeita é que possa ter acontecido quando as tias que morreram procuraram atendimento na rede pública para os sintomas iniciais da doença, que nem estava diagnosticada na ocasião.

“Como foi mesmo a gente não sabe, porque todos os filhos tinham contato com a minha vó, que era acamada. A tia que morreu primeiro foi para o PA [pronto-atendimento], mas foi diagnosticada com dengue e pediram para voltar para casa. Nessa mesma semana, minha avó também passou mal e foi para o PA”, disse.


João Rosa de Oliveira, de 84 anos, também foi infectado pelo coronavírus, mas já recebeu alta; sua esposa não resistiu à doença - Foto: Arquivo pessoal

Depois da primeira morte, Valéria lembra que todos da família fizeram exames em uma clínica particular, que deram resultado negativo. Os irmãos ainda se reuniram para resolver como seria a vida do avô que ficou viúvo e todos acabaram tendo contato entre si.

“A gente só descobriu que todos os irmãos estavam com coronavírus porque começou a chegar o resultado dos postos de saúde e os laudos das mortes da minha tia e da minha avó”, diz Valéria.

Agora, explica Valéria, o momento é de cuidar dos parentes com diagnóstico positivo, mas com cuidados redobrados. A vendedora explica que ela e sua família (marido e dois filhos) fizeram testes para a Covid-19, todos com resultado negativo.

“Meus familiares que estão positivos estão em cômodo isolado, com louça separada. Quando vão ao banheiro, a gente já corre atrás para limpar. Não tem como isolar 100% porque todo mundo tem família, mas a gente que deu negativo não está tendo contato com eles”, garante Valéria.

A vendedora também se revolta com a irresponsabilidade de moradores da cidade que fazem festas e se aglomeram nas ruas.

Marília registra até agora 217 casos confirmados de Covid-19, além de outros 326 considerados suspeitos, à espera de exames. Sete pessoas já morreram na cidade por complicações da doença.



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