Pacientes recorrem à cannabis medicinal para enfrentar vários tipos de doenças no interior de SP

Entidade do município realiza em novembro evento gratuito para democratizar acesso à informação e romper preconceitos.



Pacientes recorrem à cannabis medicinal para enfrentar diferentes tratamentos no interior de SP - Foto: Abracamed/Divulgação

A maconha, conhecida cientificamente como cannabis, é utilizada para fins terapêuticos há milhares de anos. Apesar das barreiras sociais e legais, em Marília (SP), o uso da planta medicinal tem ajudado a vida de pessoas em tratamento de diferentes tipos de enfermidades.

É o caso de Nayara Mazini, que trata a filha de 9 anos com cannabis medicinal. A menina nasceu com uma síndrome rara, que implica, entre outras dificuldades, em epilepsia refratária, nome dado a convulsões que não conseguem ser interrompidas com medicamentos tradicionais.

Segundo a mãe, as crises envolviam várias convulsões por dia, a ponto de dificultar a autonomia da criança. Com o uso terapêutico da planta, a menina tem evoluído no tratamento. Hoje, de acordo com Nayara, ela vive com muito mais conforto e qualidade de vida, tendo se tornado capaz até de se alimentar sozinha, mesmo que sob supervisão.

Nayara utilizava o óleo da cannabis medicinal. Antes, ela importava o óleo, mas uma decisão judicial a permitiu plantar maconha em casa.

A enfermeira foi uma das pioneiras a obter autorização judicial para plantio de cannabis, tornando-se um símbolo da causa no país. Após vários testes, Nayara chegou a um tipo de óleo com os níveis ideais de compostos para a filha.

“Eu acabei fazendo mestrado e, agora, estou no doutorado pesquisando a cannabis medicinal."


Nayara usa a cannabis medicinal para tratar a filha, de nove anos, que convive com uma síndrome rara - Foto: Arquivo pessoal

A psicóloga Berenice de Lara também usa a planta para tratar a mãe, que tem mais de 90 anos e convive com Alzheimer. Ela pesquisa o assunto há três décadas e diz que a recuperação da mãe foi surpreendente após o uso do produto de origem natural.

“Ela piorou muito rapidamente, ficou acamada e achamos que iríamos perdê-la. Foi preciso enfrentar o preconceito da família, mas iniciamos o tratamento com a cannabis."

Hoje, Berenice conta que a mãe reativou a memória e vive uma rotina normal: faz caminhadas diariamente, tem total independência em seus cuidados e lê jornais e livros.

Acesso à informação

Além do uso da cannabis medicinal no tratamento de familiares, Nayara e Berenice têm outro vínculo. As duas fazem parte da diretoria da Associação Brasileira de Cannabis Medicinal (Abracamed), que promove ações para democratizar o acesso à informação e avançar na quebra de preconceitos.

Nos dias 25 e 26 de novembro, a entidade vai organizar em Marília um seminário sobre a planta medicinal. O evento é gratuito, aberto ao público e tem o tema “Ciência, Políticas Públicas e Direitos Humanos”. Para participar, é preciso preencher um formulário no site da instituição.

A apresentação será realizada na Universidade de Marília, parceira da iniciativa. A associação também tem convênio para cooperação técnica e científica com a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que cederá palestrantes ao projeto. Também participarão membros do Judiciário e especialistas no assunto oriundos de outras áreas.

Em um ano e meio de fundação, a Abracamed, sediada na própria cidade de Marília, tem alcançado resultados promissores. Ao todo, possui 92 médicos prescritores parceiros, 1,1 mil associados em todo o país, 2,9 mil atendimentos feitos e 38 diferentes tipos de tratamentos, com destaque para combate a dores crônicas, doenças autoimunes, neurológicas, ansiedade, depressão e síndromes raras.


Associação promove ações para democratizar acesso à informação e romper preconceitos - Foto: Abracamed/Divulgação

Avanços

De acordo com a associação, o acesso à cannabis medicinal vem crescendo e os tabus envolvendo a planta vêm sendo enfrentados, porém, com ganhos e perdas de território.

Recentemente, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) restringiu o uso terapêutico da cannabis medicinal, com até mesmo proibição de médicos em ministrar palestras e cursos sobre o tema fora do ambiente científico. A decisão, contudo, foi suspensa.

Segundo Sérgio Roberto de Lara, presidente da entidade, existem cerca de 80 associações cannábicas no Brasil, “mas apenas quatro não seriam afetadas pela decisão do CFM, entre elas, a Abracamed”.

O motivo é a natureza dos vínculos de pesquisa da associação e a existência de habeas corpus que a permitem realizar o plantio da planta. Ainda de acordo com Sérgio, no entanto, na maioria dos casos, a resolução impediria o acesso de pacientes em franca evolução em seus tratamentos.

A Abracamed foi idealizada por pessoas que encontraram na cannabis medicinal uma forma de dar mais qualidade para familiares com diferentes tipos de enfermidades. É o caso tanto de Nayara, quanto de Berenice.
 



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