Clínica TEA promove capacitação sobre autismo de suporte nível 1

Encontro na secretaria de educação discutiu desafios do diagnóstico e o impacto do “mascaramento”.



Dando continuidade à campanha do Setembro Amarelo, mês dedicado à valorização da vida, a Clínica TEA (Transtorno do Espectro Autista) e demais deficiências, gerida pela Secretaria de Saúde em parceria com a Associação de Proteção à Criança Casa Lar, realizou hoje uma importante ação de orientação na Secretaria de Educação. A capacitação, direcionada a agentes de saúde e enfermeiros, focou na necessidade de um olhar atento e sensível para o autismo de nível de suporte um.

Conforme explicou Priscila Reis, coordenadora da Clínica TEA, autistas de nível de suporte um muitas vezes não apresentam sinais físicos evidentes, diferentemente de outros níveis do espectro. Isso faz com que cheguem às unidades de saúde apenas quando o sofrimento mental já está em um estágio muito grave. "É sempre importante lembrar que é uma condição silenciosa, e que quem a tem muitas vezes tenta esconder para se encaixar na sociedade, o que torna mais difícil de detectar", afirmou Priscila, destacando a importância de um acolhimento especial.

O encontro começou com uma dinâmica proposta pela psicóloga da clínica, Giovana Busnardo, que, com um novelo da cor símbolo do Setembro Amarelo, criou uma "teia" entre os participantes. A dinâmica ilustrou a importância da união e o impacto de quem se sente "de fora", fazendo uma analogia com a necessidade de inclusão e apoio.

A também psicóloga da Clínica TEA, Mariana Movio, abordou os desafios do diagnóstico em autistas de nível de suporte um. Por serem falantes, inteligentes e, em muitos casos, dominarem áreas de afinidade (como música ou jogos), eles podem passar despercebidos, levando a sociedade a subentender que são neurotípicos. Mariana enfatizou que as meninas autistas costumam aprender a mascarar o comportamento com mais facilidade para se sentirem parte do grupo, o que historicamente resultou em subdiagnóstico, pois os sinais buscados eram tipicamente observados em meninos.

Essa tentativa forçada de adaptação, contudo, gera um sofrimento significativo, levando ao desenvolvimento de sintomas de ansiedade ou depressão na adolescência. Autistas de suporte nível um têm maior chance de sofrer bullying, desenvolver outras comorbidades e enfrentar dificuldades no mercado de trabalho.

Diagnóstico Preciso e Acolhimento Integral
 

A agente de saúde e psicóloga Estefani Carvalho Ribeiro levantou uma questão pertinente sobre o estigma em torno da busca por um diagnóstico de TEA, como se "todo mundo agora quisesse ter autismo". Priscila Reis complementou, explicando que muitos jovens e adultos foram tratados por anos com diagnósticos como transtorno de ansiedade, bipolaridade, TDAH ou transtorno de humor depressivo, quando a patologia de base, na verdade, era o Transtorno do Espectro Autista. Nesses casos, um diagnóstico preciso muda o tratamento, pois permite entender a dinâmica e o funcionamento cerebral do indivíduo.

A palestra ressaltou que o sofrimento das meninas autistas é agravado por cobranças sociais, padrões de beleza e expectativas sobre sexualidade e vida conjugal, que muitas vezes conflitam com seus desejos pessoais. O convite final da Secretaria de Saúde e Clínica TEA foi para que os profissionais da saúde desenvolvam um olhar atento, uma comunicação estruturada e específica – usando passos detalhados em suas orientações – e ofereçam apoio não só aos pacientes, mas também a seus cuidadores, cujo sofrimento mental também é grande. A capacitação dos servidores da Secretaria de Saúde é essencial, principalmente pela sutileza dos sinais do autismo.

 



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