Era uma vez um formigueiro muito vistoso. Ficava localizado numa planície e de longe todos podiam vê-lo, quer por sua beleza, quer pela opulência da entrada de seus túneis que se erguia em meio a vegetação. Era um formigueiro não muito grande, sabe daqueles que estão em pleno desenvolvimento... Pois é, esse é o formigueiro de Pararápapa que, com uma população muito jovem, cresce a cada dia e espalha seus túneis pela planície.
A vida no formigueiro não é lá essas coisas, pois, como a própria cigarra já cantou uma vez, as formigas de lá só pensam mesmo em trabalhar e eu, se fosse a cigarra, complementaria a música dizendo que eles não só pensam apenas em trabalhar, como também só possuem essa opção, pois o lazer em Pararápapa não é muito levado à sério. Alguns que possuem o poder no formigueiro chegam até a afirmar que lazer é coisa de desocupados.
A vidinha ia caminhando como sempre em Pararápapa... De vez em quando uma festinha, outra vez um bailinho e as formigas iam vivendo a sua vidinha, buscando juntar recursos para uma aposentadoria feliz e nada mais que isso.
Um belo dia as coisas começaram a ficar agitada no formigueiro, pois, invadido por uma corrente muito forte de água das chuvas, um dos formigueiros vizinhos foi totalmente destruído e de lá sobraram poucas formigas que foram pedir abrigo em Pararápapa.
Recém chegados de fora todos foram muito bem investigados pela polícia formigueira que não admitia estrangeiros em suas terras sem o devido conhecimento e o consentimento dos poderosos do local.
Foram dias de sofrimento, pois os estrangeiros, embora tenham se mudado para Pararápapa ainda não tinham muito conhecimento sobre o local e ficaram isolados da vida social...
Foram tempos difíceis!!!
Aos poucos os estrangeiros foram mostrando o seu talento e começaram a participar mais da vida em Pararápapa, pois uns tinham habilidades em música, outros nas letras, outros eram técnicos em diferentes áreas e começaram a servir à comunidade de tal forma que foram bem aceitos, mas o rótulo de estrangeiros não era esquecido... Sempre que havia um conflito ou debate de idéias e um deles estava no meio, logo alguém acusava: “só podia ser um estrangeiro!!!”.
Isso incomodava muito, mas como eram prestativos e dedicados os estrangeiros começaram a ocupar importantes posições na sociedade pararapuana e, por isso, logo foram reconhecidos por seus talentos. Já era comum no formigueiro serem encontrados nos túneis e cumprimentados com educação e respeito: “-Bom dia senhor estrangeiro!”.
Um belo dia os estrangeiros procuraram mostrar que as formigas podiam ir além de simples atividades trabalhistas diárias e deveriam, para seu crescimento, buscar novas áreas de conhecimento, se dedicar a música, as artes, aos esportes, enfim, explorar melhor seus talentos pessoais, ao invés de ficar apenas na linha de produção cumprindo suas tarefas diárias...
Pra quê os estrangeiros fizeram isso??? Foram criticados, ofendidos, ameaçados e quase expulsos de Pararápapa. Não se podia, segundo os poderosos do formigueiro, desviar a atenção do trabalho com coisas fúteis e pessoais...
Mas os estrangeiros não desistiram e com o próprio exemplo acabaram convencendo muitas outras formigas a demonstrarem seus talentos... Logo não eram apenas os estrangeiros, mas sim, grupos e mais grupos de formigas que se descobriram e passaram a agir com maior satisfação no trabalho, pois agora tinham seus talentos reconhecidos.
A cada dia que passava os estrangeiros tinham mais prestígio e talentos. Isso servia de incentivo às demais formigas que passaram a dar asas e ter asas com a imaginação, transformando a vida pacata em Pararápapa numa rica, alegre e desafiadora aventura por novos e motivadores caminhos...
Por: Valter Fortuna