Município ocupava o posto há 23 anos, de acordo com censos do IBGE.
A perda do título de menor cidade do Brasil pegou os moradores de Borá (SP) de surpresa. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgado nesta quinta-feira (29), o município, com 834 habitantes, deixou a posição ocupada por 23 anos para Serra da Saudade (MG), que tem 825 moradores.
O prefeito da cidade, Luiz Carlos Rodrigues, aponta entre os motivos para o ganho de 27 novos moradores o fluxo de entrada e saída de trabalhadores em uma usina de açúcar e álcool e a tranquilidade da cidade, que atrai principalmente pessoas aposentadas.
"Em Borá, 99% dos empregos gerados são da usina, mas talvez a tranquilidade da cidade seja o principal fator para atrair novos moradores", diz ele.
A usina, inaugurada em 2003, abriu 471 vagas no último ano, mas a maioria dos trabalhadores ainda mora na cidade vizinha de Paraguaçu Paulista.
Alguns trabalhadores, no entanto, preferem virar cidadãos boraenses de vez, como é o caso de José Aparecido João, de 45 anos. Operador de máquinas, ele saiu de Paraguaçu Paulista para ficar mais perto do local de trabalho e é o mais recente morador: entrou na nova casa pela primeira vez na noite de quinta-feira. "Conseguimos uma casa em um conjunto habitacional. Além disso, é mais próximo do meu trabalho e tem uma tranquilidade difícil de encontrar em outras cidades. Borá é chique demais e quero viver sossegado pelo resto da minha vida", diz.
José, o mais novo morador de Borá, trouxe a mudança na quinta-feira (Foto: Alan Schneider/G1)
Já Elenilson Ramos, de 38 anos, veio de mais longe. Ele saiu de Alagoas em 2006 para morar e trabalhar em Borá. Tratorista na usina, ele afirma que irá se aposentar na cidade. "Vim para cá por causa da oportunidade de emprego na usina. Trouxe minha mulher e minhas duas filhas. Amo essa Borá. Tem tranquilidade e sem violência. Quero me aposentar por aqui."
Sossego e progresso
A tranquilidade citada pelos moradores é um dos atrativos para o crescimento populacional. Nas ruas de Borá não há trânsito e o som dos pássaros ecoa mais alto.
Balconista de uma farmácia, Rodrigo Bonilha, de 27 anos, mora em Paraguaçu Paulista, mas já se sente um integrante da cidade. "Viajo todos os dias, mas em Borá, o relacionamento com as pessoas é muito bom. Conheço todo mundo. Aos poucos, a gente começa a ver o desenvolvimento."
Os bebês boraenses também têm sua parcela de "culpa" na perda do título de menor cidade do Brasil. Entre janeiro e agosto deste ano, Borá teve cinco nascimentos e nenhum óbito. Em 2012 foram 18 partos e apenas uma morte.
David Jr. tem 2 meses e é um dos mais novos boraenses (Foto: Alan Schneider/G1)
Um dos recém-chegados é David Júnior, de apenas dois meses completados nesta quinta-feira. O pai do bebê, Welington Pinheiro da Silva, de 22 anos, mora em Borá há 10 anos. "O nosso filho é mais um que somou para a cidade. É bom ver que o município está crescendo. Tem pessoas diferentes e pode aumentar o movimento. É preciso ter mais opções e festas. David Júnior é um boraense com futuro na cidade."
Impacto na economia
Mas o crescimento da cidade também é visto com certa desconfiança. "A receita da cidade não deve aumentar. Por outro lado, a renda per capita vai cair e muito. O crescimento é positivo, o progresso, mas temos que nos preocupar em manter os serviços nas áreas da saúde, educação. Será que nós vamos conseguir continuar oferecendo o que sempre oferecemos? Temos que aguardar para esperar o impacto que isso irá trazer", afirma o prefeito Luiz Carlos.
Segundo ele, o título de menor cidade do país ajudava a conquistar recursos para a cidade. "Sempre brinco que Borá é a caçulinha do estado. O pai sempre tem que olhar para o filho menor. Agora, como a menor cidade do estado e a segunda do país", diz.
O aposentado Valcir Lopes de Macedo, de 55 anos, também espera que o sossego e a rotina pacata da cidade não sejam interrompidos tão cedo. "Aqui é tranquilo. A gente brinca que é a menor cidade, mas todo mundo leva na esportiva. Moro na cidade há quase 15 anos e, se o crescimento vier, que venha também com mais saúde, educação. E claro, que continue sem bandidagem."
História
Borá foi elevada à categoria de município em 1964, desmembrada de Paraguaçu Paulista. No primeiro levantamento populacional realizado pelo IBGE na cidade, em 1970, Borá tinha 1.270 habitantes e era a décima cidade menos populosa do país. Já em 1980, a cidade ficou em segundo lugar, com 866 habitantes.
A partir do censo do IBGE de 1991, Borá passou a ocupar o posto de cidade menos populosa do país, com 751 habitantes. No último censo, em 2010, o município continuava a ser o menos populoso, com 805 habitantes.
No entanto, um levantamento da estimativa populacional feito em 2012 apontou que cidade, que obteve dois habitantes a mais, havia passado a dividir o posto com a cidade mineira. As duas tinham 807 habitantes em 2012. De lá para cá, Borá somou mais 27 moradores, chegando a 834.
A tendência é que a cidade ganhe mais moradores em breve. Em agosto deste ano a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU) entregou 101 casas do conjunto habitacional "Parque das Flores" para atender parte das 231 famílias inscritas, entre elas a de José Aparecido, que se mudou na quinta-feira.