Imagine a seguinte situação: você sai de casa com seu filho e vai ao shopping. Entra na loja de brinquedos, ajuda o menino a escolher um presente bem bacana. Depois da fila no caixa, ele sai radiante. Não vê a hora de chegar em casa, rasgar o embrulho e brincar com sua cozinha nova.
Sim, você leu certo.
O seu filho, brincando com a cozinha nova.
Algum problema?
Nenhum. Ao contrário.
Mas a noçao de que existem "brinquedos de menino ou de menina", ou "cores de menino ou de menina" ainda é muito forte. Tanto que uma foto no Facebook de Arthur William ganhou ampla repercussão desde domingo, quando o professor da Unigranrio publicou uma foto do filho Ernesto, de 2 anos e meio, se divertindo com seu novo brinquedo:
"Compramos uma cozinha de brinquedo para que nosso filho aprenda desde cedo que não tem essa de "coisa de menina". Cores, tarefas e locais não determinam sexualidade de ninguém", escreveu o professor na postagem. A publicação já alcançou quase 20 mil curtidas e três mil compartilhamentos. Muitas vezes atraindo a ira dos machões de plantão.
Conversei com o professor Arthur pra desmistificar a atitude, que causou tanta estranheza. Confesso que, apesar de ensinar ao meu filho sobre a importância da divisão do trabalho doméstico, inclusive dando o exemplo dentro de casa, nunca me passou pela cabeça dar uma cozinha de presente pra ele.
Invejei o professor Arthur pela coragem de se desprender dos preconceitos e estereótipos, que muitas vezes passam desapercebidos mesmo por aqueles pais bem intencionados, que se policiam pra evitar a reprodução de comportamentos machistas.
BLOG PAI PRA TODA OBRA - Qual a importância de ensinar ao Ernesto desde pequeno essa noção de que gênero não determina tarefas, cores, ou brinquedos?
ARTHUR WILLIAM - As crianças devem crescer seguras de si. A privação de determinado brinquedo é um preconceito gigante que só traz infelicidade à criança. Não existe brinquedo de menino e de menina. Os brinquedos ajudam na formação dos adultos e por isso é importante entender que cozinhar é uma tarefa comum a qualquer pessoa, seja homem ou mulher.
Não gosto de rosa, mas só encontrei cozinhas nessa cor. Contudo, isso não foi um impeditivo para o uso do brinquedo por meu filho. Ele tem brinquedos de várias cores, inclusive rosa. Tive brinquedos rosas na infância e sou heterosexual, mas tive lidar com limitações como, por exemplo, o preconceito com as chamadas "brincadeiras de menina".
Hoje sou um adulto que ainda tem dificuldade de dividir as tarefas domésticas com minha esposa, como limpar a casa e preparar a comida. Quero que meu filho seja melhor do que eu, por isso invisto em sua Educação.
BPTO - E a repercussão? Esperava que fosse dese jeito? Como os pais de uma forma geral reagiram ao seu post?
ARTHUR - Vejo muita gente falando sobre problemas da sociedade atual como machismo e racismo nas redes socias. Isso ajuda outras pessoas a refletirem e mudarem suas práticas. Meu objetivo foi mostrar que casais tradicionais (cristãos e heteressexuais, como eu e minha esposa) podem mudar convenções e construir um mundo com mais partilha e fraternidade.
BPTO - Muitos pais se solidarizaram contigo? ou a maioria foi de mães?
ARTHUR - As mulheres foram imensa maioria no apoio à foto. Elas sentem na pele a criação de adultos machistas, que não dividem as tarefas de casa com as esposas.
Fonte: blogs.oglobo.globo.com