Um dos blocos carnavalescos mais antigos do Brasil e, claro, de Paraguaçu Paulista, Las Golondrinas, completou neste carnaval bodas de ouro. Cinquenta anos de muita farra, alegria e companheirismo. Denis Maricato, o único integrante do bloco desde a sua criação, concedeu entrevista ao Portal Paraguaçu e disse um pouco mais deste bloco que leva todos os anos a alegria aos foliões do PTC.
Como iniciou o bloco?
Éramos uma turma de rapazes inconformados com o convencionalismo e os preconceitos da sociedade. Éramos inseparáveis. Andávamos juntos, jogávamos juntos, brigávamos juntos, sonhávamos juntos. Queríamos uma cidade mais justa e com menos falsidade. Queríamos um Brasil melhor. Éramos muito jovens...Tanto que entramos no carnaval pela primeira vez, mais para fazer um protesto, como muitos que fizemos depois, por exemplo, contra as drogas e contra a guerra do Vietnã. E acabamos gostando do negócio...
O bloco começou com quantos integrantes? Você se lembra o nomes deles?
Não me lembro exatamente quantos eram. Mas entre eles estavam o Victor Goya, o Sergio Mourão, o Pedro Querino, o Carlos Moryama, o Silvio Cimino (de S. Paulo), o Chico de Assis (Jabiranha), o Paulo Diogo, o Manéco Seródio, o Edmundo Distruti, o Denis Maricato e outros amigos. Já nas turmas seguintes entraram o Ico Pereira, o Neu, o Demóstenes, o Durvalzinho, o Duy, o Toni, o Candinho, o Ramé, o Dito Paiva, o Tiquinho, o Guilherme, o doutor Fernando (Naninho), o Primo Maróstica, o doutor Marinho, o Bruschi (Bruxa), o Luis Kumpadi, o famoso Ikinho e tantos outros foliões que detonaram nos carnavais do PTC.
Hoje tem mais ou menos quantos integrantes?
Se somarmos todos – e lembramos que uma vez Golondrina, sempre Golondrina, não é mais possível sair – inclusive o nosso cemitério querido (os que se foram do bloco e do nosso mundo), passa muito de 100. Mas a média dos que entram no salão é por volta de 20 ou pouco mais. Os integrantes sabem que não é um simples bloco... É algo muito maior, que trata de amizade, de convívio e de solidariedade... As Golô não têm dono nem direção... é como se fosse uma pessoa só, uma ‘pessoona’, entende? Com a personalidade de todos, somada e dividida. Eu sei que é estranho, mas é assim que é... Esquisito. Não é possível explicar Golondrinas. Só vivenciar...
Para entrar no bloco o que é necessário fazer?
Teve uma época que o bloco ameaçava acabar. Os membros cresceram e viraram “gente”. Queriam casar, criar filhos, ser adultos... E Golondrina parecia ser coisa de moleque, sem graça. E esses “velhos” não admitiam que estranhos e mais novos entrassem no bloco. Eu não queria que terminasse aquela alegre história. E fiz uma pequena revolução interna. Sem pedir licença, institui o chamado “trote” para admitir calouros. Foi uma novidade engraçada. Apareceram muitos jovens candidatos. E “oxigenamos” o bloco com caras e ideias novas, sob protestos dos tradicionais... Eram trotes culturais, de inteligência, habilidade, animação... E depois apareceram os famosos trotes rurais, feitos na fábrica de farinha do Pedrão Maróstica. Os trotes trouxeram uma farra especial para nós. Já teve época em que convidávamos amigos em crise e com problemas, e trazíamos eles para o nosso convívio. O mais importante é que o calouro tem que ser animado...
Você se lembra de algum momento que marcou o bloco?
É muita história... E os relatos estão nas cabeças de quem viveu, e de quem tem mais memória, como o Durvalzinho, o Neu, o Guilherme. Muitos se foram com as lembranças, para formar as Golondrinas do céu. Tivemos momentos inesquecíveis e não foi só no salão. Fizemos, por exemplo, uma reforma no asilo dos velhos (ainda na estrada de Conceição). Reunimos lá mais de 100 jovens. Deixamos o local novo, em uma semana. Entramos outra vez de guerrilheiros, e imitamos o Che Guevara e o Fidel Castro, em pleno regime militar. Imagine... Fomos dedados e processados. Respondemos ao Exército Brasileiro o porquê da farra temática. Foi horripilantemente gostoso... De outra feita, houve o caso da “Gololança”, que um comissário de polícia achou que o Cezinha levava droga em uma bomba de “Detefón”. Foi hilário. Fizemos os acusadores guardarem a bomba no cofre da Caixa, para ser analisado... Há também muitas lendas e mentiras. É difícil acreditar em tudo. Mas tem gente que acredita... Fizemos também pescarias no Mato Grosso, e instituímos o famoso brinquedo de “Pique-Latinha” noturno... Bem, mas vou parar por aqui, pois os leitores não vão acreditar... Em breve teremos também um site, e lá vamos tentar colocar um glossário de termos de golondrinês, a linguagem oficial dos país golondrínico...rsrsrsrs. Acho que somos muito estranhos mesmo. Até a Globo já nos filmou várias vezes. Saímos em rede nacional, imagine. E os repórteres nos seguiram por todo o trote rural. E levaram ovo na cabeça... Mas isto é outra história...
Porque o nome Las Golondrinas?
Quando entramos pela primeira vez no carnaval do PTC, a intenção não era formar um bloco. Só queríamos fazer um protesto e pronto. E funcionou. Deixamos muita gente conservadora indignada. No ano seguinte é que surgiu a idéia de continuar. Em 1962, a música da época era a “Mulher casada que anda sozinha, é andorinha...”. Como fomos todos de mulher, achamos interessante dar o nome de As Andorinhas para o grupo. Um dia, estávamos todos no cinema (íamos juntos, em mais de vinte). Era um filme mexicano, e um menino cantor interpretou um folclore chamado “Las Golondrinas”. Os mais burrinhos perguntavam então o que significava golondrinas em espanhol. Andorinhas, respondemos. E veio então a ideia. Por que não golondrinas ao invés de andorinhas? E assim foi. Achamos mais “chique”...
As Golondrinas é um tema difícil de entender... Nem mesmo nós compreendemos direito o que se passa no bloco. Só sabemos que é algo muito bom, quase divino. As pessoas entram, saem, voltam e tornam a sair... Há uma eletricidade estranha entre nós. Gente de todas as religiões, cores e pensamentos políticos entram e se dão bem. Há uma igualdade gritante entre todos. Fazemos gozação com os mais pobres e com os mais ricos, nivelando todos. É como uma estranha irmandade. Tem vida própria, linguagem própria e é super sem graça. Mas os membros parecem amar incondicionalmente essa coisa esquisita que é o bloco. Algumas vezes falaram em acabar com o bloco. “Já chega”, diziam, ou ainda: “Já enchemos muito”, ou então: “Chega de sengracezas”... Mas, estranhamente, quando chega o carnaval, a “Fênix Golondrinica” parece renascer, reanimar. E vamos mais uma vez para a farra... Assim é, e assim vai ser para sempre, pois Laz Golondrinas, na verdade, não é um bloco, mas “Um estadu di ispíritu”!
Ja houve momentos em que o bloco esteve para acabar? Se não acabou, como conseguiram segurar, se a maioria dos blocos não existe mais? Qual a receita dessa proeza de 50 anos? E ainda com todo esse gás?
Há 50 anos fazendo a diversão dos foliões do PTC
Carnaval 2011