Caminhadas vão levar juízes de nove cidades para conhecer história negra

Para além de um momento festivo, o dia 20 de novembro proporciona a reflexão sobre o racismo e as suas implicações na atualidade




Para além de um momento festivo, o dia 20 de novembro proporciona a reflexão 
sobre o racismo e as suas implicações na atualidade


Juízes (membros do Poder Judiciário) de nove cidades brasileiras terão a oportunidade de resgatar a história e a cultura afrodiaspórica do país neste sábado (20), dia da Consciência Negra, durante a "Caminhada Negra", passeio guiado coordenado pela plataforma de afroturismo Guia Negro, que passará por lugares importantes da história da população negra em cada cidade.

As cidades onde acontecerão os passeios são: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Olinda (PE), São Luís (MA), Ouro Preto (MG), Campo Grande (MS), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS).

"A caminhada pretende resgatar a história e fortalecer a nossa memória em relação às contribuições do povo negro para o nosso país, apagadas em decorrência do racismo", afirma Flávia Martins de Carvalho, diretora de Promoção da Igualdade Racial da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).

O Guia Negro organiza roteiros desde 2018 com o intuito de fortalecer a memória dos brasileiros a respeito das contribuições do povo negro para o país. O roteiro construído pela plataforma propõe a visitação de locais que contam mais de 5 séculos da história do negro na formação da nação brasileira. 

"É importante conhecermos e enaltecermos essas narrativas com protagonismo negro. Não apenas no 20 de novembro, mas essa é uma data simbólica, de luta, em que ressaltamos nossa história e lembramos que ainda hoje a população negra é a maior parcela de mortos pela polícia da população carcerária", ressalta Guilherme Soares Dias, fundador da plataforma.

A data do evento também marcará o lançamento de tours focados na cultura negra em Olinda (PE), que será comandada por Alafin Oyó, e em São Luís (MA), que será realizado pelo Instituto da Cor ao Caso, ambos em parceria com o Guia Negro. Os passeios contam ainda com parcerias da Sou Mais Carioca, no Rio; Dim Neguinho, em Ouro Preto, Grupo Tez em Campo Grande, Linha Preta em Curitiba e Associação Negra de Cultura em Porto Alegre.

O Dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro. A data reúne diferentes ações de combate ao racismo e reacende o debate sobre a chegada dos negros ao país, a escravidão no Brasil e o racismo estrutural da sociedade. 

Como surgiu o Dia da Consciência Negra? 

O Dia da Consciência Negra foi instituído pela Lei nº 10.639. O documento inclui o tema “História e Cultura Afro-Brasileira” como componente curricular obrigatório das escolas brasileiras. Além disso, instituiu o 20 de novembro como o ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. Apesar da legislação reconhecer a data em 2003, a sua existência é bem anterior. 

Em uma pesquisa sobre a consciência negra, é importante saber que em 1978 ativistas do Movimento Negro Unificado (MNU) se reuniram em Salvador e acordaram que o dia da morte de Zumbi, 20 de novembro, seria celebrado como o Dia da Consciência Negra. A ideia era usar a data para relembrar a luta dos negros escravizados que se rebelaram contra o sistema escravista da época.

Nascido em 1665, Zumbi dos Palmares comandou o Quilombo dos Palmares por quase 15 anos e liderou a resistência de milhares negros contra a escravidão. Ele chegou em Palmares com 15 anos de idade e assumiu o comando do quilombo após a morte do antigo líder, Ganga Zumba. Durante a sua liderança, Palmares enfrentou diversas batalhas para defender o território e a liberdade dos negros no quilombo. 

Em 1694 o Quilombo dos Palmares foi destruído pelo governo durante uma expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Apesar de ter resistido, Zumbi foi capturado e morto um ano depois, em 20 de novembro de 1695. Ele foi assassinado pelo capitão Furtado de Mendonça, em cumprimento das ordens de Domingos Jorge. Zumbi foi decapitado e a sua cabeça foi exposta em uma praça de Recife.

Além de ser uma homenagem e reconhecimento da luta de Zumbi dos Palmares e seus companheiros no quilombo, o Dia da Consciência Negra é fundamental para evidenciar as desigualdades e violências contra a população negra ainda existentes em nossa sociedade. Para além de um momento festivo, a data proporciona a reflexão sobre o racismo e as suas implicações na atualidade.



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